terça-feira, 9 de agosto de 2011

Hipermercado

Lembro-me do tempo dos mercadinhos de bairro, apesar dos meus poucos 38 anos, e das registradoras que pareciam máquinas de escrever. Já naquele tempo, ir a um supermercado maior, como a Casas Sendas de Nova Iguaçu, era um passeio para mim.
Na minha infância, ia passar feriados e férias na casa da Tia Bicila. Ela morava numa casa de vila no Cachambi, e todos os dias ela ia ao CB (Casas da Banha) e voltava com uma ou duas sacolas de papel, além de visitas constantes a um botequim ou “venda”, não lembro ao certo, bem perto da vila, onde ela comprava presunto fatiado na hora, um pedaço de queijo parmesão (que a Rida, tia de criação e que morava com tia Bicila) iria ralar em casa além dos guaranás e sodas-limonada que eram vendidos em cascos de vidro “retornáveis” (claro que naquela época não tinham esse nome, pois não existia outro tipo, logo não precisavam de nome).
Mais tarde fui morar em Carajás e tive que me contentar com todos os dois grandes mercadinhos de lá. Resultado: quando ia de férias para uma capital, entrar num hipermercado, um Carrefour, por exemplo, era como se eu estivesse num shopping, mesmo que estivesse só de acompanhante era um deleite, passear pelas gôndolas que tinham de roupas à sacos de arroz. Isso sem falar na alegria de poder ir numa Lojas Americanas...nuuu bão di mais! E assim passei algum tempo por lá, entre Alvorada e Sul Carajás e passeios alegres, nas férias, a grandes e modernos hipermercados, passeios que não tinha tempo para me estressar com algo ou identificar defeitos pois estava ocupada demais descobrindo as novidades tecnológicas e outras coisas que não conhecia. Coisas do tipo: ficar procurando a balança na área de hortifrutigranjeiros e depois de alguns minutos descobrir que era no caixa, ou descobrir os leitores de códigos de barra para consultar o preço, etc.
Mais aí o tempo passou de novo e cheguei à Campos. Descobri que tinha um Walmart, nem esperei muito para ir lá, acho que fui logo no primeiro final de semana na cidade. Ainda tinha cara de passeio, queria ver como era, se era hiper, se tinha balança no caixa, se vendia de pneu a farinha de mandioca. E era. Tem até um Café na entrada, lojas  como O Boticário e drogaria e um quiosque o Bob’s do lado de fora. Uau, alegria, estava morando numa cidade com um hipermercado. Hoje, alguns meses depois da chegada ele já não é mais considerado um passeio, e já tenho tempo para reparar em outras coisas, como as filas que não andam. É fácil passar uma hora na fila do caixa. Um sábado, estávamos todos nós com as barrigas roncando e o carrinho cheio numa fila que não andava, resolvi eu e Gu, meu sobrinho, ir ajudar a empacotar as compras dos clientes do caixa que estávamos. Sim, porque depois de 2 segundos de observação percebemos que o motivo da demora nas filas era o empacotamento das compras. É caros amigos, tem leitor de código de barra, tem lojas na entrada, vende de um tudo, mais não tem “a moça que guarda as compras”. Assim que eu e Gu começamos a empacotar as compras duas coisas aconteceram. A primeira era que nossa fila andava mais que as outras e todos não entendiam e a segunda é que os clientes que estavam no caixa não entendiam muito bem o fato de nós estarmos ali fazendo aquilo. As vezes eu até achava que eles pensavam que eu queria “desviar” algum produto. Então a cada novo cliente eu perguntava: - Com licença, posso ajudá-lo empacotando suas compras? É que estamos com pressa e assim à fila andará mais rápido. Eles faziam uma cara menos desconfiada e consentiam. Assim foi até chegar nossa vez na fila, alguns minutos depois. Isso aconteceu de novo hoje. Lá estávamos nós, com carrinho cheio, barriga vazia e fila parada. Desta vez Gu e Flávia não estavam conosco e resolvi ir ajudar no empacotamento sozinha mesmo. De novo as caras desconfiadas e eu pedindo para ajudar. Uma senhora perguntou se eu era funcionária, respondi que não, se eu era voluntária, respondi que de certa maneira sim. Estava na mesma fila que ela e com um pouco de pressa por isso resolvi ajudar para a fila andar. Como a cara da dona não mudou muito, com ela resolvi que deveria apenas abrir as sacolas plásticas e não empacotar. Aí, comecei a pensar em como somos bobos. Uns me achando a madre Tereza das empacotadoras, outros enclausurados nas suas cismas e falta de fé na boa vontade em ajudar, e eu por minha vez, na dúvida se estava sendo “boazinha” ou apenas egoísta, afinal meu objetivo final era sair dali e não ajudar. Mais percebi que até quando estamos agindo em nosso favor podemos também ajudar os outros. Porque então, insistimos em só olhar pro nosso umbigo? Porque não podemos escolher o caminho da cooperação? Sem necessidade de rotular em boazinha ou egoísta. Apenas interagir ao invés de ficar na concha da ostra?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Equilíbrio e Disciplina

Tem um programa de TV que faz sempre as mesmas perguntas para os famosos. Uma das perguntas é: qual a palavra preferida deles? Muitos respondem AMOR. É a mais fácil, é a mais politicamente correta para se responder na lata quando não temos uma filosofia de vida, valores a seguir ou uma religião para iluminar nossos caminhos. E não tem nada de errado com a palavra. Ela é realmente muito importante. Mas se a pergunta fosse feita para mim eu não poderia responder com apenas uma palavra. Como (pelo menos) no blog mando eu, vou contar para vocês as minhas duas palavras preferidas.

A primeira é EQUILÍBRIO: Sem equilíbrio nenhuma outra palavra fica inteira. Vou tentar explicar meu pensamento. Vamos usar alguns exemplos:
Amor – teoricamente uma palavra que só trás idéias positivas, coisas boas, mas se ele for em demasia torna-se perigoso. Torna-se possessivo, um amor que não liberta. Tentar possuir um marido, uma esposa, um filho, uma mãe, seja quem for não é amor. É amor sem equilíbrio. É paixão. O amor, como Cristo nos exemplificou e pediu precisa ser equilibrado, manso, paciente, libertador.
Fartura – outra palavra que muitos desejam, mas que novamente sem equilíbrio trás conseqüências desagradáveis. Muito dinheiro sem equilíbrio pode virar ganância ou sovinice. Muita comida sem equilíbrio vira gula, doença, colesterol, barriga, obesidade, etc.
Ideal – ideal é algo que move a humanidade para frente, é o sonhador que vislumbra algo novo e o persegue. Idealistas fizeram, e fazem, progredir o mundo através das ciências, religiões, filosofias. Mas ideal sem equilíbrio vira fanatismo, vira guerra, vira autoritarismo.
Conhecimento – eu sou a primeira a defender o conhecimento, sem ele não crescemos, não podemos salvar a nós mesmos. Mas quando damos importância só ao conhecimento intelectual corremos o risco de nos tornarmos pretensiosos, orgulhosos, corremos o risco de esquecer que o Homem além da razão é também emoção. Se o filosofo disse: Penso logo existo. Eu arrisco dizer: Amo logo sou cristão. Ninguém voará até o Pai Celestial apenas com a asa da intelectualidade, precisamos das duas asas desenvolvidas: a do conhecimento e a do amor.
Acho que vocês já pegaram a minha linha de raciocínio, não é?! Tudo que somos, que fazemos, que queremos tem de ter equilíbrio, sem ele com certeza cairemos da corda bamba, e nem sempre temos rede de proteção embaixo.

A segunda é DISCIPLINA: Conquistar o equilíbrio nos nossos pensamentos, atos e escolhas do dia-a-dia é tarefa difícil. E tudo que é difícil deixamos para depois. Vamos postergando para ver se some como num passe de mágica. Preferimos as coisas fáceis, prazerosas, as “portas largas”. Coisas que nos exigem sacrifício, atenção, esforço, que não trazem prazer só poderão ser resolvidas e superadas com disciplina. A disciplina precede o prazer, a satisfação.
É a disciplina que me leva a musculação, é a disciplina que me faz cozinhar, é a disciplina que me faz dizer não para um pedaço de bolo de chocolate (com sete camadas, lembram?). É a disciplina que me faz comer chuchu. Porém foi a disciplina que me fez começar a ler. Foi a disciplina que me fez começar a estudar inglês.
Se não conseguimos fazer algo por prazer, façamos por disciplina. Ela aos poucos vai transformar aquela ação em hábito. E hábitos são repetidos automaticamente, e se são automáticos não tem tempo para serem penosos. Então pense com o quê você está empregando sua energia disciplinadora, o quê você está transformando em hábito na sua vida. São coisas saudáveis? São coisas virtuosas? Ou são nocivas para você ou para o próximo?
Caros amigos, roguemos a Deus nos conceda Equilíbrio e Disciplina.

Expanda-se

Embora no corpo físico o sentimento seja representado pelo coração e a razão seja representada pelo cérebro, a cada dia que passa vou fortalecendo a teoria de que no campo espiritual esta separação é impossível. Para que nosso espírito evolua, precisamos de um “cérebro pulsante” ou um “coração pensante”. A vida material me deu um irmão e uma irmã.
Quando eu era menina (ontem praticamente), era muito tímida e reservada. Só fiz uma irmã naquele tempo. Se ela faltasse à aula eu não tinha ninguém para conversar no recreio. O tempo se passou e depois que cheguei à Carajás e aprendi a expandir meu conhecimento através do estudo da Doutrina Espírita, sem me dar conta, percebi que meu coração também tinha se expandido. Hoje conto com mais oito irmãs (incluindo aquela primeira do primário) e quatro irmãos.
Um dia seremos capazes de nos expandirmos como uma Tsunami, e não conseguiremos mais separar os amigos dos irmãos. Abrir a mente para as luzes do conhecimento cristão também é muito contagiante. Ao vestirmos a roupa da boa-vontade, da disciplina e do auto-conhecimento tudo a sua volta vira lição. Um filme, uma piada, um livro, um comercial, uma novela. A todo o momento temos olhos de ver e ouvidos de ouvir lições cristãs. Há algum tempo assisti a um filme que me abduziu. O nome em Português era “O primeiro da Classe”, e contava a história verídica de um americano que superou a síndrome de Tourette. Quando falo que ele superou a doença, não quis dizer que ele ficou curado, pois essa doença não tem cura. Mas que ele superou mágoas e problemas que a doença trouxe e construiu uma vida feliz, constituiu família e alcançou objetivos. Eram quase três horas da manhã e eu chorava como bebê ao final do filme. Eram tantas as nuances, tantas lições para se tirar dali, tantos desafios, pequenos e grandes, que o filme me abduziu a ponto de só conseguir escrever sobre ele quase três meses após assisti-lo.
Queridos amigos, a busca pela palavra de Deus, o espírito da boa-vontade e a prece não abrem só o terceiro olho, como diriam os místicos, mas expande-nos infinitamente!

Uma escola chamada DOR

Era uma vez um ratinho que vivia feliz em grande casa de fazenda. Certo dia, o fazendeiro chegou em casa com um gato e o firme propósito de dar fim no ratinho. Grande perseguição seguiu-se durante horas, no melhor estilo Tom e Jerry. Até certa hora que o ratinho fugindo para o curral pediu ajuda a Sra. Vaca: - Me esconda, Dona Vaca. O gato está querendo me comer!
A vaca respondeu que não podia fazer nada, ela era só uma vaca. Ele insistiu e a Sra. Vaca teve uma idéia. Levantou o rabo, e sem cerimônia despejou farto monte de estrume e disse: - Corra, esconda-se aí dentro.
O ratinho, entre o nojo e o medo, falou: - Mas Dona Vaca, me esconder na bosta?!?
Dona Vaca respondeu: Bem, é você quem decide ...
O ratinho ouvindo os passos do gato que estavam mais próximos, olhou para aquele monte de M ...., tomou longo fôlego e pulou. O gato entrou no curral e começou a procurá-lo. Olhou debaixo da orelha da D. Vaca, debaixo do coxo de comida e nada.
- A onde está aquele rato, D. Vaca, fale logo, eu o vi entrando aqui! Perguntou o gato.
- Não vi rato nenhum, sou só uma vaca. Respondeu D. Vaca. Neste momento o ratinho já quase sem fôlego, levantou a cabeça, soltou um pio, tomou novo fôlego e voltou a mergulhar na M.... . O gato atento ouviu e falou: - Ahraamm, achei! Meteu a mão puxou o rato, deu bruta sacudidela para limpar a “cobertura” e engoliu-o de uma só vez.
Moral da história
Nem todo mundo que te joga no estrume, quer seu mal. Nem todo mundo que te tira do estrume quer seu bem. Mais uma vez dentro do estrume não pie!!!!
            Apesar de descontraída, e até um pouco trash, a moral da história traz grande ensinamento do Evangelho do Cristo: “Bem aventurados os aflitos, porque eles serão consolados.”
Quando lemos ou ouvimos conselhos para bendizer o sofrimento e as dores que o mundo e a vida nos impõe respondemos: Está falando isso porque não está doendo em você.
Mas posso afirmar para vocês, a dor e o sofrimento são escolas benditas. Se você venceu muitas lutas na vida, se tem cicatrizes, bendiga-as, pois foram elas te levaram ao caminho da vitória. Elas foram placas sinalizadoras que você soube suportar, soube ler e caminhar em frente. Mais quando o sofrimento nos bate a porta e respondemos com lamentações, injurias, revolta, inconformação, tapamos nossos olhos, ouvidos e razão para as placas sinalizadoras, os limites que oferecerão segurança e além da dor parecer mais doída ainda teremos que passar por tudo aquilo de novo. É como o aluno que não aproveita seu tempo durante o ano letivo e precisa no ano seguinte fazer tudo de novo. Bendizer a dor não é conformar-se. A indiferença, a apatia, a preguiça e a vitimização são tão prejudiciais quanto a revolta. Elas também jogarão espessa cortina de fumaça em nossas mentes. Para sermos aprovados na escola da dor precisamos aprender com os cadernos da resignação, paciência, fé, esperança, prece, coragem e confiança em nós e no PAI Maior, que sempre sabe mais e nos conhece melhor que nós mesmos.

Desejo e Necessidade

Nem sempre o que desejamos é o que é necessário para o nosso bem. E quando entendemos e colocamos nas mãos do PAI, com confiança e fé, o nosso futuro, temos de estar preparados e maduros para conhecer os caminhos da necessidade e abdicar dos caminhos dos desejos.
Porém, às vezes DEUS nos concede nossos desejos. Nesses casos precisamos pedir para receber também a sabedoria. Sim, sabedoria para poder caminhar sobre as satisfações realizadas sem se esquecer dos compromissos assumidos, das dores do vizinho, da caridade e da fraternidade.
O grande problema da alma humana é o egoísmo. Se ela está matriculada nesta vida para aprender através da necessidade se julga vítima, injustiçada e entrega-se a revolta, esquece que a dor existe também em outros lares, acha que só ela sofre, só ela é infeliz e injustiçada. Mas, se está matriculada nesta vida para aprender através dos desejos realizados, esquece que tudo que recebe é temporário. Que são riquezas materiais, físicas, que ficarão na Terra e, adormecidas pela fartura e contentamento não transformam as riquezas materiais em riquezas espirituais.
Queridos amigos, devemos combater o egoísmo dentro de nossos corações. Ele é um mestre em disfarces e às vezes o chamamos de amor próprio, brio, preconceito e etc. Devemos meditar longamente sobre nossas ações, nossas escolhas, com sincera coragem, para conseguir enxergar que algumas não passam de egoísmo e orgulho.
Alguns de meus desejos já se realizaram, outros não foram atendidos. Atualmente tenho dois pedidos no topo da lista (pelo menos da lista de curto prazo – claro, porque tenho os pedidos para longo prazo também!! Você não tem?) um refere-se a toda a minha primária família, e outro refere-se mais diretamente a mim. E passei a pedir assim:
PAI concede-me a graça deste pedido e junto dele a sabedoria e disciplina para desfruta-lo de acordo com as leis do bem e da caridade, e muita coragem, resignação e paciência para enfrentar a vida se ele não for atendido.

O Príncipe e o Plebeu

Uma principesca oportunidade nos catou de surpresa um dia desses proporcionando a mim, e parte da minha família buscapé, à conhecer o Copacabana Palace Hotel. Sim, senhor... o mais charmoso e famoso hotel de Copacabana teve o privilégio de receber ilustres iguaçuanos, paraenses e cariocas da clara!
E foi no banheiro da piscina do Copa, como intimamente decidi chamar o hotel, afinal já nos conhecemos pessoalmente ... Aí que loucura! Como diria Narciza, a vizinha!! Que percebi que eu e os banheiros temos boas histórias para dividir com vocês.
Mas para entenderem todas as minhas divagações no banheiro da piscina do Copa, é preciso primeiro falar de outros que conheci por aí. Os banheiros plebeus. O primeiro de que me lembrei foi de um banheiro na estação de travessia da balsa, em São Domingos do Araguaia. Era tão precário, de madeira e sujo, que decidi levar meu filho mais novo para fazer número 1 no “matinho” mesmo. Já visitei outros banheiros plebleus, como os de rodoviárias, mais acho que nenhum supera os banheiros das paradas de ônibus do interior do norte e do nordeste. Já viajei de busão entre Rio-Maranhão, Rio-Carajás, Maranhão-Rio Grande do Norte e as paradas escolhidas pelas empresas de ônibus nos fazem pensar que o critério de escolha seja algo do tipo: o pior que conseguirmos. Outro banheiro TOP no ranking dos plebeus foi o que achamos numa viagem entre Carajás (PA) e Macau (RN). Depois de mais ou menos 12 horas de viagem de trem partindo de Carajás (sem comentários sobre o banheiro do trem!) chegamos a Imperatriz as 18 hs onde devíamos esperar o ônibus para Fortaleza que partiria dali as 23 hs. Sophia, então com 2 anos e eu grávida de João, estava cansada e muito suada pois o calor era grande. Resolvi procurar um lugar onde pudesse usar um banheiro para dar um banho nela e prepara-la para conseguir enfrentar mais umas 12 hs de viagem até o destino final. Em frente a rodoviária de Imperatriz achei um “hotel”, se é que aquela pensão merecesse o nome de hotel que estava na placa da fachada. A proprietária/recepcionista foi muito atenciosa e eu expliquei minha intenção. Ela mais que depressa me levou até o quintal, me apresentou ao tanque e a cuia e disse: - Fique a vontade minha filha, pode dar banho no seu bebê. Eu não me fiz de rogada, e Sof adorou a água bem geladinha do “banho de cuia” que custou bem baratinho. Claro, não é porque o banho era no tanque que seria de graça, né. Troquei roupa, fralda e ela ficou renovada. Marcello quase chorava diante do quadro, que era para ele dramático e para mim hilário e refrescante!!! Posto isso, acho que já me fiz clara para que vocês entendam minha completa falta de simpatia, quase raiva, ao ler o relato num blog de “patricinhas muderninhas” sobre a falta de lugar para apoiar a “bolsa tipo carteira” num banheiro de um restaurante 5 estrelas do Rio de Janeiro. No texto ela criticava o restaurante pela falta de preparo da direção em adaptar seus banheiros as tendências da moda feminina. Fala sério ... apoio para a bolsa-carteira Prada, LV ou sei lá o quê da patricinha?!! Minha filha se você estivesse apertada mesmo, tenho certeza que essa preocupação não passaria pela sua cabeça.
Antes de voltar ao banheiro do Copa, tenho mais uma sobre banheiros de rodoviária. Lá pelos idos dos anos 80, quando eu era um lindo bebê de 1 ou 2 anos (qua qua qua, não acreditem nesta matemática) estávamos indo, eu, minhas primas e titia do Rio para São Paulo. Naquela época, era comum pegarmos o ônibus da meia-noite saindo do Rio. Como era inverno e chegamos em SP muito cedo, o frio era intenso. Eu dormia como o anjo que sou (qua qua qua) no colo da minha tia. Enquanto esperávamos minha madrinha chegar para nos apanhar, titia resolveu esperar sentada numa cadeira que ela encontrou dentro do banheiro, pois era o lugar mais quente dali. Foi aí que as outras pessoas ao saírem do banheiro, olhavam para minha tia e eu dormindo e deixavam ao lado dela dinheiro. Peennnse na cena!!
Voltando ao banheiro do Copa. Nós, cidadãos comuns, conhecedores das realidades mais duras de nosso país, imaginamos um banheiro de piscina sem requinte, pisos e revestimentos resistentes à água e espaço moderado. Ledo engano, caro plebeu. O banheiro da piscina do Copa, é espaçoso, sem um azulejo (acho que era papel de parede), pufs estofados e com mais espelho que quarto de motel. Isso sem falar das toalhinhas individuais de algodão, muito bem dobradas e arrumadas dentro de cestas de vime para as princesinhas secarem as mãos. É amigos, nada de papeleira com papel-toalha e recadinho “duas folhas bastam para secar as mãos”. Isso é coisa de pobre. Ou melhor, de plebeu!

Copacabana

“Copacabana princesinha do mar...” canta os versos de famosa canção!
Mas na verdade Copacabana está mais para Rainha Mãe! É o bairro preferido dos cariocas velhos, ou dos velhos cariocas.
Eu mesma, uma carioca da clara, se pudesse escolher viveria minha velhice em Copacabana.
Pintaria os cabelos de um azul-roxeado (para manter a tradição das ‘velhas cocotas’ do bairro), Marcello vestiria uma sunga moderninha, com um MPsei lá que número no ouvido e sairíamos fazendo caminhada pelo calçadão toda manhã. À tarde eu reclamaria das coisas que ele espalhou, escreveria besteiras no meu blog, falaria no skype com meus filhos, que estariam desbravando o mundo, 3 vezes por semana iria para a academia e nos outros 2 dias iria para a aula de yoga e meditação. Marcello, isso deixo a escolha dele, mais não me surpreenderia se ele fosse tirar uma sonequinha. À noite, nos dividiríamos entre trabalhos e reuniões da Doutrina e as excursões de ‘melhor idade’ para o circuito cult e teatral da cidade. Ôh ... como diz o samba: “sonhar não custa nada, nosso sonho é tão real ...”
Bom, voltemos ao tema principal.
Se a Amazônia é uma perfeita amostra da biodiversidade. Copacabana é uma perfeita amostra da ‘biodiversidade humana’. Como disse uma vez Luciano Huck: - Se Copacabana fosse cercado seria um manicômio, e se fosse coberto seria um circo.
Quando ouvi isso achei que era uma boa definição para o bairro. Por lá encontramos todos os tipos. Os feios, os bonitos, os ricos, os pobres, os heteros, os gays, os pans, os brasileiros, os gringos, os malandros, os trabalhadores, os surfistas, os pregadores evangélicos, os assaltantes e os assaltados. Lá podemos encontrar todas as tribos, tudo isso regado a “eau de toilette xixi de cachorrô", os de madame com sapatinho ou os vira-latas, afinal Copacabana é democrática, pluralizada. Todos vivem e convivem numa harmonia desarmonizada que resiste ao improvável e ao tempo e coloca o nome do bairro em todos os encartes de turismo da cidade maravilhosa.
A diversidade de Copacabana não está só nos tipos, nas raças de cachorros, está também nos sotaques: O nordestino, o carioqueixxs (vale um adendo: tem o sotaque do carioca playboy, do suburbano que foi para zona sul e do carioca mermão das comunidades), o inglês dos gringos, o inglês das meninas e meninos da profissão mais velha do mundo, o inglês dos orientais (tem certeza que eles estão falando inglês?!), e claro o portunhol dos garçons, taxistas e moradores em geral que não acham, tem certeza que sabem “hablar espanhol perfectamente”, todos os sotaques juntos na mesma roda de bate papo.
Entre todos os sotaques um é clássico para mim. É o retrato das areias de Copacabana e a onde eu estiver e alguém gritar:
- Oh Globo! Oh biscoito torrado! Doce e Salgado!
- Mate! Mate! Oh Mate limão! Oh mate geladinho! Quem vai???
Na mesma hora vou-me tele-transportar para a princesinha do mar ....