sábado, 9 de julho de 2011

Cenas Cariocas

Cena 1: O Brasioca
Cenário: Cinelândia

Assim com eu, uma carioca desgarrada, que um dia passeava pelo centro do Rio com os pensamentos a voar, apresento-lhes agora o Brasioca, esse carioca de nascimento que expandiu seu coração e experiências para todo o Brasil, dobrando esquinas do Oiapoque ao Chuí. E lá está ele, o mesmo olhar blasê para a paisagem urbana, o mesmo sentimento nostalgicamente alegre de rever aqueles lugares, de rever outros cariocas, de nascimento ou não, indo e vindo apressados, sem dar importância para a cidade ou o cenário, para a beleza daquele lugar. Sem ligar para a história do Odeon, para a malandragem do chopp com frango a passarinho do Amarelinho ou para a cultura e imponência do Teatro Municipal e da Biblioteca Nacional. E ainda tem o Cordão do Bola Preta, que sai dali de pertinho, no carnaval. Ser carioca é isso, é amar essa cidade  apesar de seus defeitos e bueiros voadores. É continuar carioca, mesmo que não se viva mais lá.
Mas o carioca, de nascimento ou não, que vive na cidade, não está preparado pro frio. Ele está acostumado com a temperatura para shorts e havaianas, e quando faz um ventinho mais frio, digamos lá pelos 20ºc a cariocada, de nascimento ou não, se encasaca toda. Tiram jaquetas e botas empoeiradas dos armários e andam mais agassalhados que pincher de madame no inverno paulistano. Ô povo engraçado (e exagerado)!!

Cena 2: Os cariocas, nascidos no nordeste brasileiro
Cenário: Uma rua do Flamengo

Como já disse, para ser carioca, não precisa necessariamente ter nascido no Rio. Muitos viraram cariocas. E no Rio existe uma mania coletiva de chamar os nordestinos de “paraíbas”. Mesmo que eles sejam baianos, sergipanos, cearenses, etc. E, é claro, que isso incomoda os nordestinos, e não tiro a razão deles, pois afinal assim como nós, eles também querem ter sua identidade cultural reconhecida e esta generalização soa pejorativa. Mais para os nordestinos que se sentem ofendidos por este apelido a cena a seguir será difícil de assimilar ou classificar: Numa rua do bairro do Flamengo, conversam, na frente de um prédio, dois senhores que pelas características físicas e sotaque deixam claro que são nordestinos. De repente, passa por eles um outro, esse um rapaz mais jovem, exibindo um bem penteado topete moicano à la Neymar. Um dos senhores vira pro outro e dispara: “- Olha lá, fulaninho, aquele paraíba, com moicano, não tem nem vergonha, deve tá achando que é o Neymar, maisxxs rapá, num tô dizendu!”
Agora me digam, esses dois senhores, que muito provavelmente são nordestinos de nascimento, são ou não são cariocas?!